domingo, 13 de novembro de 2011

Farol Vermelho Para a Infância

Em pleno século XXI, vivemos uma completa inversão de papéis. Crianças estão sendo obrigadas a ir para as ruas, trabalhar e sustentar suas famílias. Outras nem casas têm, e o que se tem feito para mudar esse panorama? Assim como a situação caótica a falta de esforços é visível, já que nem mesmo pesquisas são feitas a mais de 16 anos.

Atualmente, o cenário das ruas do país tem se tornado cada vez mais caótico, o número de moradores de rua têm crescido e se tornado cada vez mais alarmante. Partindo dos dados de uma pesquisa feita em 2003 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas da USP, que apontou que haviam 10.399 pessoas morando nas ruas da capital de paulista, já em 2010 uma pesquisa realizada pela prefeitura de São Paulo indicou que o número saltou para 13.666, um crescimento de 31% em apenas 3 anos. Mas o que leva uma pessoa a morar nos logradouros públicos?
De forma geral, há dois aspectos fundamentais apontados para levar um indivíduo a sair de seu lar: desilusão no âmbito familiar, o que pode ser caracterizado por abandono ou falta da família, discussões ou conflitos internos, falta de apoio entre outros; e os problemas financeiros. Entretanto, de forma aprofundada podem ser citados outros tantos motivos como, distúrbios psicológicos, uso de drogas, desajuste social ou até busca por uma liberdade que não pode ser encontrada entre as paredes do lar.


Moradores de rua se protegem do frio em Curitiba

Ademais de todos os número assustadores a respeito do número crescente de pessoas que habitam as calçadas, viadutos e outros locais onde é impossível ter uma vida com todos os direitos assegurados. Há também outro grande número crescente de crianças que trabalham nas ruas. Seja nos semáforos, nas calçadas, o número inconstante é cada vez também mais preocupante.
Morando ou não nas ruas, muitos jovens hoje em dia trocaram a bola, o lápis e a borracha por meios precários de trabalho nas ruas, um local nada adequado para um crescimento adequado.

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Um cenário de trabalho infantil que foi a muito tempo pintado, vem se estendendo cada dia mais. Aqueles que deveriam estar na escola, em meio a família e amigos, estão cada vez mais nas ruas, desamparadas, fazendo trabalhos que são designados a seus pais, assumindo papéis em posições desumanas, vistas em segundo plano e grande parte das vezes sofrendo preconceito. E isso não se refere somente as crianças que vivem literalmente nas vias públicas, mas também daquelas que usam a mesma como fonte de renda e até sustentam seus lares.


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O gráfico acima, contém informações da última pesquisa feita sobre a situação do trabalho infantil nas ruas. A análise foi feita pela Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios (PNAD), no ano de 1995. Os 16 anos sem qualquer pesquisa sobre o assunto, mostra o quanto – mesmo com a realidade exposta aos olhos – não conhecemos a fundo o assunto. E como combater algo sobre o qual não se tem informações concretas? Como governo e sociedade podem agir e mudar a situação? Ou será que a falta de número e dados só mostra o quanto ambos os lados nada querem fazer para reverter o processo?
A pesquisa apontou também que no ano de 1995 havia 3,6%, cerca de 581,3 mil, crianças entre 5 e 9 anos de idade estavam trabalhando, com uma jornada média semanal de 16,2 horas. As características demográficas e econômicas dos chefes de família indicam que nos domicílios onde crianças dos 5 aos 9 anos trabalhavam, 92% dos chefes eram homens; 57,8% eram pardos e 37% brancos; 35,4% ganhavam até R$ 100,00 mensais; 56% sabiam ler e escrever. Ainda, 91% das crianças que trabalhavam vinham de domicílios onde o pai e a mãe estavam presentes.
Muitas os chefes dessas famílias, muitas vezes são somente a mãe ou o pai, com muito filhos e uma renda tão baixa que é incapaz de colocar comida em todos os pratos, e diante dessa situação os filhos são forçados – hora pelos pais, hora pela situação, hora por própria vontade – a trabalhar como podem.
Essa é a história do menino Igor Antunes Marques, de 15 anos, morador da cidade de Diadema – SP e semianalfabeto, que após anos trabalhando nos semáforos da cidade encontrou alguém para lhe ajudar. Igor concordou em responder algumas perguntas sobre a época em que sua casa era a rua quase que em período integral, as quais estão transcritas abaixo:
Quantos anos começou a ir no farol?
13 anos.
Com quem você foi pela primeira vez?
Com meu irmão.
Ele te incentivou?
Não, eu quis ir.
Como foi o primeiro dia?
Foi bom, as pessoas me trataram bem.
Porque você foi?
Pra conseguir dinheiro pra comprar comida.
Você gostava de ficava no farol?
Mais ou menos. O lado ruim era que os motoristas do ônibus não davam carona e era difícil ir embora. E o lado bom é que ganhava muito dinheiro.
Você dava o dinheiro para a sua mãe?
Sim, todo. Não sabia nem contar o dinheiro.
Você já sofreu algum acidente?
Sim, fui atropelado atravessando a rua.
Você acha que o farol e um lugar seguro?
Não.
Você acha que o farol é o lugar apropriado para crianças ficarem? Por quê?
Não, porque as crianças tem que estar escola.
Você já viu alguns dos seus colegas usando drogas?
Sim, muitos.
Os seus amigos do farol sabiam ler e escrever?
De 12 só 3 sabiam.
Vocês iam pra escola?
Às vezes.
Você se arrepende de já ter ido trabalhar no semáforo?
Sim, ficava ‘se’ matando pra ganhar dinheiro lá.
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Igor, garoto de 15 anos que foi tirado das ruas por uma desconhecida

O que ocorreu por anos com o garoto, se repete todos os dias nas ruas, não só brasileiras, mas de todo o mundo. Igorsemianalfabeto, ‘semi’, pois em sua vida surgiu uma mulher suficientemente caridosa para ajuda-lo.
Roseli de 43 anos, apesar de poder se considerar uma mulher completamente realizada, foge desse rótulo. Com duas filhas, um bom marido, casa própria e próxima da aposentadoria, Roseli não se contentou em fazer de seu lar, um ambiente feliz e viver pacatamente. Arregaçou as mangas e após conhecer o garoto analfabeto, indagou se ele gostaria de aprender a ler e escrever, diante da resposta positiva ela começou a ensiná-lo, hoje cuida dele como um filho e suas filhas o tratam como irmãos. Igor continua trabalhando para ajudar sua família, mas não nas ruas.
A iniciativa dessa mulher, mudou a vida do menino, mas não é sempre assim. O egoísmo humano não deixa, muitas vezes, que enxerguemos um palmo além de nossas próprias narinas. Enquanto poucos se comovem com a Dor dessas crianças, muitos só tem olhos apenas para os próprios umbigos, roupas de marca, carros, mansões, e outros artigos de luxo, que jamais poderiam passar pela cabeça das crianças que não têm nem um prato de comida após um dia duro de trabalho.

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